16 de junho de 2010

Vale contesta efeitos do aumento do preço do minério na inflação

Em recente entrevista, o diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli, rebateu afirmações de que o aumento do preço do minério de ferro seria responsável pela elevação do Índice de Preços ao Mercado (IGP-M), que teve a prévia de junho anunciada na semana passada pela Fundação Getúlio Vargas. A metodologia de cálculo do IGP-M considera que todo o minério de ferro produzido no Brasil é vendido no país, quando, na verdade, 90% do produto é exportado. "Somente 10% do minério produzido fica no Brasil, mas na metodologia do IGP-M 100% é vendido aqui", argumenta Agnelli. Recentemente os pesos relativos do índice foram alterados e o minério passou a ter uma participação maior. "Na minha opinião, esse índice está fortemente distorcido por uma metodologia que talvez não reflita o atual ambiente econômico brasileiro", complementa.

Em março deste ano, a mesma FGV, atráves do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), publicou um estudo do Diretor de Pesquisa da Escola de Pós-graduação em Economia, João Victor Issler, sobre o impacto do aumento de preço do minério no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2010 e 2011*. O estudo concluiu que o efeito sobre a inflação medida pelo IPCA é estatisticamente igual a zero, ou seja, tem impacto irrelevante. "A inflação, para mim, é calculada pelo que as pessoas pagam efetivamente e isto é medido pelo IPCA", acredita Agnelli.

Em outras palavras, o cálculo da inflação - aquela que afeta o dia a dia das pessoas - é feito pelos chamados índices de preços ao consumidor (IPCA, IPC, IPC-M). Como o IGP-M tem 60% de sua composição vinculada a um índice de preços ao produtor (IPA) - que mede a renda que os produtores recebem por seus produtos e não os efeitos sobre o consumidor - há claramente uma distorção no seu uso indiscriminado como referência de inflação. A título de ilustração, no acumulado dos últimos 12 meses, o IPA apresentou uma variação de 3,45% contra uma variação do IPC-M de 5,39%, na prática contribuindo para reduzir o IGP-M. Já no acumulado de 2010, a situação fica invertida, com IPA e IPC-M de, respectivamente, 5,31% e 3,99%.

Por outro lado, o INCC (Índice Nacional da Construção Civil) evoluiu 6,06% e 3,46% nos últimos 12 meses e no ano de 2010, respectivamente. E a construção civil usa basicamente aços longos que, fundamentalmente, são produzidos por meio de sucata de aço, não com minério de ferro.

Para o diretor-presidente da Vale, o aumento do volume de exportações e do preço do minério está contribuindo para evitar a inflação, uma vez que é responsável pela maior parte do saldo positivo da balança comercial brasileira. "Hoje, o minério de ferro é o maior item de exportação do Brasil. Se tudo correr bem, a Vale passará a ser a maior exportadora do país ainda este ano."

Finalmente, cumpre ressaltar que o aumento de renda do produtor, medido pela elevação do IPA, traduz-se, em grande medida, na elevação dos investimentos no país. E, quando se trata de produtos de exportação, implica a elevação do nível de bem-estar da sociedade, em função da melhoria dos seus termos de trocas comerciais. Por exemplo, quando o preço do minério de ferro e da soja aumenta, o país obtém receita adicional de exportação. Assim, a alta do preço desses produtos tem potencial para gerar mais investimento e, consequentemente, mais emprego, renda e desenvolvimento.

(*) O estudo completo da FGV pode ser consultado em: http://www.vale.com/saladeimprensa/_audiovideo/FGV_Minerio2010.pdf

Nenhum comentário: