19 de julho de 2010

Expedição ao Paraopeba: a realidade de um Rio

Protegendo-se da voracidade de cidadãos de outras regiões do planeta, que buscavam ouro e diamantes, alguns índios subiram terras virgens a partir do litoral e criaram base de moradia numa serra. Nascia assim a ocupação original da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, antecedendo-se à ocupação de Mariana e Ouro Preto.
Registram-se estes fatos no final do século XVII, bem como os povoados: Serra dos Carijós, Freguesia dos Carijós, Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós, Real Vila de Queluz de Minas, Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete. Os povos indígenas guardavam as águas como ente familiar: “Agradecemos as águas em todas as formas que se apresentam, por matar nossa sede, molhar nossas plantações, nos conduzirem a novos mundos e por nos ensinar sermos flexíveis, fortes, suaves e prósperos. Nesse momento, unimos nossos corações e agradecemos à grande Força das Águas”, diziam em seus rituais.
Em tupi, o substantivo água resume-se a uma letra: i (ig). A expressão água verdadeira, água de fato, é ieté. Água doce é icem. Água boa é icatu. Água benta ou água santa é icaraí. Nomes indígenas qualificam rios brasileiros: Ipanema (água ruim, rio sem peixes), Ipiranga (rio vermelho), Paranapuitã (rio pardo). Paraopeba é rio de Águas Rasas.
Já na visão cristã da sacralidade das águas esteve presente desde o princípio do povoamento do Brasil. E a percepção das águas vem de longe no imaginário popular. A cultura brasileira guarda visões indígenas nas lendas da iara, da mãe d’água, do boto encantado e das carrancas. Guarda elementos religiosos de culturas africanas nos banhos de cheiro, nas oferendas em cachoeiras, procissões marítimas.
Compreender a história dessa percepção social das águas e incorporar tradições e cultura popular é estratégico para reverter parte dos problemas atuais. Colaborar para conservar a bacia do Paraopeba é uma referência pública de grande alcance econômico, ecológico, social e de sobrevivência.
Criar nova referência e resgatar o antigo respeito, sagrado e histórico com as águas, é objetivo desta Expedição, que acontece entre agosto e setembro e percorrerá trechos do Paraopeba, desde a sua nascente em Cristiano Otoni até a sua confluência no Rio São Francisco, na represa de Três Marias, em Felixlândia.
Serão realizados encontros com participação da comunidade, órgãos públicos, empresas, que serão protagonizados por cidadãos, cidadãs e atores locais em eventos artísticos e culturais. Formar-se-á a Rede Solidária de Vigilância Permanente, num foco de interesse comum e sinergia positiva, visando à melhoria das condições e cuidados com as águas e terras de suas sub-bacias. O processo de mobilização social é parte de iniciativas que acontecerão antes, durante e após o projeto. Criar outra realidade e percepção para o nosso Rio, que abastece mais da metade da RMBH, depende de nosso engajamento. A Expedição ao Paraopeba é uma oportunidade para isso.

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